1 de ago. de 2015

NAMI CONCOURS 2015 - Parte I / Part I


Relatos de uma experiência inesquecível

O barco, semelhante a um pequeno ferry boat, conclui sua travessia fluvial, chegando ao outro lado do rio em menos de 10 minutos. Desembarcamos na Ilha de Nami, na Coreia do Sul, à noite. A expectativa é enorme.

Está frio, mas somos recebidos por uma calorosa salva de palmas. É uma tradição na ilha que os funcionários recebam os convidados com aplausos, cumprimentando individualmente a cada um, com imensa simpatia.

A partir do píer de desembarque, uma trilha no bosque iluminada por balões brancos indica o caminho a seguir até o hotel. Tudo em Nami é especial. E o dia seguinte nos aguarda com muita atividade e emoção.


An unforgettable experience 

The little ferry boat finishs crossing the river, arriving at the opposite bank in under 10 minutes. We get off at Nami Island, in South Korea, at night. The expectations are very high.

It’s cold, but we are met with a warm round of applause. It’s a Nami tradition to receive guests with a small ovation, greeting each one individually, with great affection.

A narrow path through the woods from the pier to the hotel is illuminated by little white balloons. Everything in Nami is special. And the day after awaits us with much activity and emotion.
(see the complete text below)

Versão / Translation: Jonathan Strom e Pilar Castro

























1. Introdução

Ouvi falar pela primeira vez da Ilha de Nami quando Roger Mello esteve lá, indicado pela FNLIJ – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil –, representando o Brasil no projeto “Peace Story”, que reuniu escritores e ilustradores de literatura infantojuvenil de várias partes do mundo. Na matéria que li, redigida por Gisela Zincone e publicada numa edição do Boletim da FNLIJ em 2010, Nami se afirmava como um cenário ecológico dedicado a atividades culturais e sobretudo à valorização do livro para crianças e jovens. Na foto que ilustrava a matéria, um senhor coreano era apresentado como um dos grandes responsáveis pelo sucesso do empreendimento.

Quatro anos depois, em 2014, descobri o Nami Concours – Nami Island International Picture Book Concours –, concurso bienal com foco nos livros ilustrados (picture books) cuja primeira edição já havia sido realizada em 2013. Aberta a convocação para sua segunda edição, inscrevi meu primeiro projeto autoral, o livro de imagem “O fim da fila”.

Pelo regulamento do concurso, os três primeiros colocados seriam convidados a participar das cerimônias de abertura e premiação na própria Ilha de Nami. Às vezes sonhos se realizam...

Em janeiro de 2015 foi divulgado o resultado final do concurso e então soube que iria para a Coreia do Sul em maio, convidado para receber pessoalmente o prêmio atribuído a “O fim da fila” (ver post de 18/01/2015) e assistir ao vivo a abertura do evento e a exposição dos trabalhos vencedores. Uma honra que me deixou imensamente feliz.

De lá pra cá pude ler, ver e ouvir bastante sobre a ilha de Nami, um lugar concebido para proporcionar o acesso ao sonho e à diversidade, ainda pouco conhecida por aqui.


1. Introduction

The first time I heard about Nami was when Roger Mello went there, under recommendation of FNLIJ – the Brazilian IBBY Section – representing Brazil in the “Peace Story” project, where children’s and youth book writers and illustrators from several countries met. In an article published by Gisela Zincone in 2010 for a FNLIJ newsletter, Nami was stablishing a name as an ecological landscape dedicated to cultural activities, mainly theo raise awarness of children’s literature. This article included a photo in which a middle-aged Korean man was presented as one of the principals of the successful undertaking.

Four years after, in 2014, I discovered the Nami Concours, "Nami Island International Picture Book Concours", a biennial contest for picture books, whose first edition was held in 2013. As soon as the second edition was announced, I submitted my first self-authored project, the image book “O fim da fila” (The end of the line).

According to the contest rules, the top 3 place winners would be invited to take part in the Opening and the Award Ceremonies on Nami Island. Sometimes dreams come true...

In January of 2015, the final results were announced and I fund out that I was invited to travel to South Korea in May, to receive in person the award granted for “The end of the line” (see the post from 18/01/2015) and to attend the Opening Ceremony and the winners exhibition. This was a great honor which made me extremely happy.

From that point on, I read, saw and heard a lot about Nami Island, which is not familiar to many Brazilians, but is really a magical place, conceived to provide access to dreams and diversity.


2. Nami Concours

O concurso bienal se propõe a incentivar a produção de livros ilustrados (“Picture books”) de qualidade para crianças, oferecendo aos artistas do mundo todo a oportunidade de mostrar seu trabalho numa escala internacional. Para tanto, concede um número significativo de premiações, divididas em quatro categorias:

Grand Prix, Golden Island (2), Green Island (3) e Purple Island (10).

Na edição de 2015 foram selecionados para a mostra e o catálogo oficial 94 ilustradores de 34 países a partir de mais de 1.330 inscritos, superando-se o dobro de inscrições da edição anterior, em 2013.

O Júri, formado por profissionais de reconhecida trajetória no universo da literatura infantojuvenil, prima pela diversidade cultural – o que se reflete na grande variedade de linguagens observada entre os trabalhos selecionados. Todos os jurados se mostraram pessoas extremamente simples e acessíveis. Foi um privilégio conhecer cada um deles um pouco mais de perto.

• Junko Yokota – Japão (Presidente)
• Zohreh Ghaeni – Irã
• Anastasia Arkhipova – Rússia
• Yusof Ismail – Malásia
• Roger Mello – Brasil
• Wee-Sook Yeo – Coreia do Sul

A lista de critérios de seleção/premiação inclui, entre outros itens: a originalidade, a possibilidade de múltiplas interpretações e a consistência narrativa (capacidade que uma sequência de imagens possui de contar uma história). O conjunto de critérios estabelecidos pelo Júri compõe o que sua Presidente, Junko Yokota, define como “Nami Vision”.

Fiquei impressionado com o alto nível dos trabalhos expostos, nas mais diversas técnicas e estilos, e tive a felicidade de conhecer vários de seus autores. Foi um grande prazer estar entre eles num cenário que tanto valoriza a arte de ilustrar livros infantis.

Para saber mais: www.namiconcours.com


2. Nami Concours

The biennial contest aims to encourage illustrators from all the world to produce high quality picture books for children, providing them the opportunity to introduce their works on a global scale. Thus, a significant amount of prizes, divided in four categories, are granted:

Grand Prix, Golden Island (2), Green Island (3) and Purple Island (10).

In the 2015 edition, 94 illustrators from 34 countries were selected from about 1.330 inscriptions, twice the amount of the previous edition's submissions in 2013.
The Jury, consisting of professionals with recognized trajectories in the world of children’s books, shows a broad cultural diversity, which is reflected in the wide variety of visual languages seen among the selected illustrations. All jurors were very humble and available to us. It was a great privilege to meet each one.

• Junko Yokota – Japan (President)
• Zohreh Ghaeni – Iran
• Anastasia Arkhipova – Russia
• Yusof Ismail – Malaysia
• Roger Mello – Brazil
Wee-Sook Yeo – Republic of Korea

The list of selection/awarding criteria includes, among others: the degree of originality, the possibility of multiple interpretations and the consistency of visual narrative to express an understandable flow of the story. The complete set of the Jury's criteria is called by its President Junko Yokota “The Nami Vision”.

I was very impressed with the high level of the exhibited artworks, in several tecniques and styles, and I had the satisfaction of meeting some of their authors. It was a great pleasure to be among them in a scenery that values so much the art of children’s book illustration.

To know more about: www.namiconcours.com


3. A Ilha de Nami


O território da ilha é considerado uma república culturalmente independente chamada Naminara ("Nara" significa terra). A república tem, entre outros elementos de sua identidade, uma bandeira oficial, moeda própria, hino e até passaportes.

A ilha é propriedade da família Minn, que há alguns anos concedeu total liberdade ao grande designer coreano Kang Woo Hyon (Grand Prix no concurso NOMA 1986, Japão, entre outros) para transformá-la num destino especial, onde se celebrasse o sonho, a arte, as heranças culturais e a natureza. 
Cada canto da ilha foi então cuidadosamente planejado por Mr. Kang: jardins, fontes, estátuas, caminhos e pequenas construções repletos de histórias e detalhes a observar. No período do Festival de Livros de Nami – o “Nambook”, atualmente realizado a cada dois anos –, a ilha é povoada por cenários e personagens dos livros infantis.





A entidade Nami Island é desde 2008 a patrocinadora oficial do prêmio Hans Christian Andersen, concedido pelo IBBY (International Board on Books for Young People) e considerado o maior reconhecimento que a obra de um autor de literatura infantojuvenil pode receber. 

Chega-se à Nami de barco ou por meio de uma altíssima tirolesa. Nada de
ponte, ia perder toda a graça. Fizemos a travessia de barco em função de termos chegado já à noite. Logo após desembarcarmos na ilha, a impressão era a de que o tempo passava mais devagar, como se deixássemos a realidade pra trás e ingressássemos num universo paralelo.

Voltando ao início do relato, nossa comitiva de cerca de 30 pessoas era composta por alguns dos ilustradores premiados no concurso de 2015, representantes do IBBY de diversas partes do mundo e membros do Júri, assim como pelos organizadores e pela equipe de apoio do evento. Volnei Canonica, atual Diretor da Diretoria do Livro, Literatura e Bibliotecas do MINC, e a designer Claudia Mendes também fizeram parte do nosso grupo de seis brasileiros – contando comigo, Roger Mello, minha noiva Pilar Castro e Juliana Belmonte, filha da Claudia.



Foi com enorme gentileza que fomos todos recebidos pelo casal Minn, proprietário da ilha e por Fred Minn, Diretor do Nami Concours, e sua equipe antes de finalmente deixarmos Seul rumo ao Nambook, o grande Festival literário do qual o concurso faz parte.

Seguindo uma dica local, no dia seguinte vaguei pelos arredores do hotel entre 6:00 e 7:30 da manhã. Foi o momento de conhecer um pouco da paisagem da ilha num horário ainda sem o público, que começa a chegar bem cedo. Interrompendo aquele silêncio só meus próprios passos e alguns esquilos, ariscos, pra lá e pra cá. Depois disso, a agenda dos ilustradores convidados seria cheia, começando com a apresentação de workshops para as crianças coreanas, na belíssima Biblioteca Infantil de Nami, inaugurada em 2013.  



3. Nami Island

Nami Island’s territory is considered a culturally independent republic, called “Naminara” (“Nara” means “land”). This republic has, among other identity elements, its own official flag, its own money, its anthem and even passports.

The island is property of the Minn family. Years ago they called the great Korean designer Kang Woo-hyon (1986 NOMA Grand Prix, Japan), invited to transform Nami into a special destination, where dreams, art, cultural heritage and nature could be celebrated. So, each part of the island was carefully planned by Mr. Kang: gardens, fountains, statues, paths and small buildings full of stories and details. During the period of Nami Book Festival – the “Nambook”, which helds every two years –, a large part of the island is dedicated to children’s books and their landscapes and characters.




Since 2008, Nami Island Inc. has been the official sponsor of Hans Christian Andersen Award, granted by IBBY (International Board on Books for Young People) and it is considered the most important recognition for the career of a children’s and youth books author.

Back to our story: our group in Nami had about 30 people and featured some of the Nami Concours 2015 winners, the jurors, IBBY representatives of several countries, as well Nami Concours organizers and team. Brazilian were a little group of six*.

*Roger Mello, Volnei Canonica, Claudia Mendes and her daughter Juliana Belmonte, my fiancée Pilar Castro and me.

We were welcomed with the incredible Korean hospitality by the Minn couple, owner of the island, and by Nami Concours' Director Fred Minn and his team. Then, we left Seoul to go to Nambook, the great book festival in which the contest is held.

It is possible to get to Nami by boat or by a high “sky line” (Zip Wire). No bridges, it is part of the magic. As we arrived at night, we crossed the river by boat. As we got off the boat, we could immediately realize how the time passes by slowly there. It was like we had abandoned reality altogether and had entered into an alternative universe.

The next day, following a local tip, I walked around the hotel area from 6:00 till 7:30 by morning. That was my moment to explore a little bit of the Island landscape, during a period of time when Nami is completely empty and silent, with no visitors in sight. Interrupting that silence, only my own steps and some shy squirrels coming and going. After this brief walk, the guest illustrators' schedule would be full, beginning with a workshop for Korean children at the fantastic Nami’s Children Library, opened in 2013. 



4. Workshops

Meu workshop foi apresentado para um grupo de 20 crianças em torno dos sete anos e se chamou “O fim da fila: pinturas indígenas e animais do Brasil”. Foram cerca de 35 minutos de slides e desenhos rápidos, mostrando um pouco da arte indígena brasileira e de nossa fauna, e explicando como foi desenvolvido o projeto do livro a partir desses elementos. Na parte final da atividade, cada criança recebeu um dos personagens do livro em miniatura – uma tartaruga (em coreano, “Guboogi”) moldada em barro pelos próprios artesãos de Nami e recém-saída do forno – e tintas preta e vermelha para pintá-la.



Foi muito enriquecedora a interação com as crianças coreanas. Tentei mostrar um pouco do processo de criação do livro e de seus personagens, com o valioso auxílio da Dami Son, que fez a tradução do inglês para o coreano. Ficou evidente que crianças são crianças em qualquer lugar. A curiosidade presente naqueles olhinhos orientais era a mesma que eu já tinha visto em diversos outros olhares infantis, principalmente por estarem vendo e ouvindo sobre a cultura diferente de um país muito distante. Ainda levei uma boneca “Ritxoco”, típica da etnia Karajá, para que pudessem vê-la de perto e tocá-la.

Depois de seca a pintura, os pequenos puderam levar suas tartarugas pra casa, como recordação da oficina – até eu trouxe a minha pra pintar depois. Uma preciosa recordação!

Lista dos workshops do Nambook 2015:
http://namisum.com/en/events/nambook-015-workshop-program/

Obs.: A segunda parte da narrativa será sobre a Exposição e as Cerimônias de Abertura e Premiação. 



















4. Workshops

My workshop was delivered for a group of 20 children about seven years old. It was called “The end of the line: indigenous paintings and animals from Brazil”. We had about 35 minutes of slides and sketches, showing some images of our indigenous art and fauna, and explaining how the book’s project was developed from these elements. At the end of the activity each child received a clay miniature of one character of the book: a turtle (“Guboogi” in Korean) produced by Nami artisans. The children also received black and red ink to paint it.


















It was a fantastic experience to interact with Korean children. I had the great assistance of Dami Son in translating my presentation to Korean. It was clear that children are children everywhere. The curiosity in those eyes was the same I had already seen in many other children's eyes, mainly because they were seeing and listening about a different culture from a very far country. I even showed them a traditional Karajá* puppet, a “Ritxoco”, which could be closely seen and touched by children.

* Indigenous group from Brazil


















Com Shinji Tajima (escritor japonês/japanese writter) and Zohreh Ghaeni, Anastasia Arkhipova e Junko Yokota (Juradas/Jurors) logo após o workshop / just after the workshop.


After the paintings were done, the little Koreans took their turtles home as a workshop souvenir – I also brought home one turtle to be painted later. It is now one of my precious souvenirs.

List of 2015 Nambook's workshops:
http://namisum.com/en/events/nambook-015-workshop-program/

The second part of this narrative will be about the Exhibition and the Opening and the Award Ceremonies. It's coming soon. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário